Por Rozana Maris Silva Faro*
Recentemente
reli para a faculdade o livro de Edgar Morin, Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Filósofo,
sociólogo, pensador e humanista, Edgar Nahoun nasceu em Paris, onde vive até
hoje. Pensador crítico da sociedade contemporânea, defende a interação entre as
diversas áreas do conhecimento como forma de melhorar a educação e transformar
a sociedade.
No
livro o autor estabelece que “há sete
saberes ‘fundamentais’ que a educação do futuro deveria tratar em toda
sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e
regras próprias a cada sociedade e a cada cultura”. Tais saberes seriam As cegueiras do conhecimento: o erro e a
ilusão; Os princípios do conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana;
Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; e
A ética do gênero humano.
Tais eixos devem
ser vistos como caminho para uma educação transformadora, devendo pautar nossa vida
cotidiana de educador, pois devemos participar integralmente na educação e
formação de nossos alunos. São saberes essenciais à nossa prática educacional e
que devem alicerçar nossa atividade educadora no mundo complexo que vivemos.
Tais conhecimentos são vistos por Morin como uma cratera, um buraco na educação
atual e que devem ser preenchidos e postos como preocupação primeira na
formação dos jovens, futuros cidadãos. Esse processo de formação da cidadania
passa pela educação.
As cegueiras do
conhecimento:
o
erro e a ilusão. Partindo da assertiva de que a educação, transmissora
de conhecimento, não sabe na realidade o que é o conhecimento humano, o autor
propõe que precisamos primeiramente conhecê-lo. Para ele, o conhecimento está
ameaçado pelo erro e pela ilusão. Isso acontece e aconteceu em diversos momentos
da história passada e recente. Morin cita Marx e Engels em “A Ideologia Alemã”, onde proclamaram que os homens formaram
falsos entendimentos deles mesmos, do mundo em que vivem, daquilo que fazem e
do que pretendem fazer.
A verdade
científica para Morin, tem um caráter relativo e não absoluto. A sabedoria, o
conhecer, não refletem, portanto, a realidade, não são espelhos das coisas
concretas. O que percebemos são reconstruções cerebrais estruturadas em nossos
pensamentos e que são decodificadas através de nossos sentidos. Por isso
podemos perceber algo, mas que não necessariamente seja correto, já que há
erros de percepção sobre tudo o que nos cerca. Ao tratar o erro de percepção, o
erro intelectual, a falta de conhecimento, deveríamos preparar nossa mente,
nosso pensamento, visando chegar ao esclarecimento, ao verdadeiro conhecimento.
A incerteza do
conhecimento:
por que ensinar a compreensão? No mundo em que vivemos, onde muito das relações
beiram a barbárie, é necessário ensinar a compreensão. Precisamos compreender a
educação como aquela que envolve as relações humanas, que aceita ao outro em
sua plenitude, sem racismo, sem discriminação, sem xenofobia.
Compreender o
outro é fator essencial para a comunicação humana. Necessitamos compreender
mutuamente o outro, envolvendo a realidade que nos cerca em sua totalidade e
não de forma fragmentada. As informações que obtemos através do conhecimento
deve ser contextualizada dentro de um todo e não parcialmente. Os acontecimentos,
portanto, devem ser contextualizados para que não sejam fatos isolados, para
que ganhem a sua plenitude. Da mesma maneira, os conteúdos estudados através
das disciplinas, também devem ser compreendidos em sua totalidade, globalmente,
e não de forma fragmentada. É necessário saber estabelecer as relações entre as
diversas áreas do conhecimento para que a própria educação não se dê
fragmentadamente.
Aprendendo a confeccionar a saia de capim dos caiapós. |
A condição do
individuo em suas particularidades deve ser essencial para o processo ensino-aprendizagem.
É preciso uma convergência entre identidade humana e ciências, reconhecendo as
mudanças que o mundo passa em todo o aspecto do ensino disciplinar. Devemos ver
a educação como uma unidade, onde o individuo é um fragmento da sociedade e
essa, por sua vez, pertence à uma espécie. Portanto, estamos inserido num todo.
Não há sociedade sem interações. Somos seres múltiplos, mas também parte de uma
unidade.
Solidariedade na escola. |
Enfrentar as
incertezas: No
mundo atual, onde a ciência passa a ter um papel importante, ela nos traz
certezas, mas contribui para gerar incertezas também. Por isso, a educação deve
propiciar estudar essas incertezas, não somente o que é certo. Devemos estar
aptos a enfrentar o inesperado, a libertar-nos da ilusão de podermos prever o
futuro. Não vivemos dentro da previsibilidade, mas do que não podemos prever.
Pequenos fatos geraram catástrofes de enormes proporções na era Moderna e não
podemos prever que aos simples possam contribuir para gerar essas catástrofes.
Devemos estar preparados a trabalhar essas situações. Por isso, não devemos ter
certeza de que tudo é previsível. Devemos refletir sobre nossas escolhas, com
critérios.
Ensinar a
compreensão: Precisamos
lutar pela compreensão mútua, já que essa encontra-se ausente do mundo atual e
a educação deve ser vista como imprescindível para essa luta. Vivemos num mundo
onde o que se prega é o individualismo, ser o melhor custe o que custar. Isso
passa pela não compreensão do outro, do que é coletivo. Compreender-se
mutuamente é essencial para as relações entre a sociedade, para que deixemos a
barbárie de lado e caminhemos em rumo à compreensão, a solidariedade. Mas para
isso devemos entender primeiramente o que é a incompreensão, quais suas causas
e consequências. Devemos compreender isso se quisermos abolir o desprezo, o
racismo, a xenofobia e lutar por uma educação de paz, de harmonia, de
solidariedade.
A ética do
gênero humano: Indivíduo, sociedade e espécie vivem em um processo de interação
inseparáveis. Essa interação é complexa já que envolve culturas e sociedades
diversas. É nessa base composta pelo indivíduo, pela sociedade e pela espécie
que devemos pensar na ética, não por meio de lições, mas de conscientização, de
compreensão do outro, de participação conjunta, de conscientização de que
pertencemos à mesma espécie – a espécie humana. Esse processo passa pela
democracia como essencial para que possamos conceber a noção de humanidade como
algo planetário.
Vivemos
num mundo de incertezas, de sociedades complexas, de diferenças socioculturais.
Muitas das verdades ditas absolutas tempo atrás, hoje não são mais vistas
assim. Questiona-se tudo. A educação também atual passa por transformações
cotidianamente, onde o conhecimento, em muitos casos, se dá como uma tábula
rasa, sem aprofundamento que leve ao verdadeiro saber. Discute-se que educação
queremos para nossos alunos. O livro – Sete
saberes necessários para a educação do futuro – é um subsídio importante para essa reflexão –
que educação queremos para nossos jovens?
A
educação deve ser vista como atividade transformadora, criativa, reflexiva,
solidária etc. Ler o livro é pensar nessa nova educação, fruto da sociedade
contemporânea, visando melhorar nossas práticas pedagógicas num mundo tão cheio
de dúvidas. Se queremos alunos que se preocupem com nosso planeta, com o outro,
que defendem a democracia e a participação da sociedade, mas de uma maneira
harmônica, devemos contribuir com isso
em nossas aulas, em nossos debates e em nossas práticas cotidianas. Por isso,
temos um papel essencial na formação de todos. Devemos considerar nosso aluno
com suas potencialidades e suas individualidades, como um individuo com
características diferentes, mas pensa-lo não somente como aluno, mas como ser
humano. Como educadora, vejo que a leitura do livro
me auxilia no debate com os alunos, em pensar um outro mundo. Um mundo
coletivo, solidário, participativo, mais humano.
*Rozana Maris Silva Faro é professora de geografia.
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