A Escola Criativa Idade localiza-se em Poços de Caldas no sul de Minas Gerais. Destaca-se na cidade por seu projeto único de educação fundamentado no pensamento construtivista. Desafia e instiga a criança a construir seu conhecimento. A escola não só ensina os conteúdos básicos de educação infantil e ensino fundamental como também insere os alunos em uma ação social que já lhe conferiu, pela quarta vez, o título de ESCOLA SOLIDÁRIA pelo Instituto Faça Parte/ MEC/ UNICEF.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Repensar a prática é pensar uma outra sociedade

Por Rozana Maris Silva Faro*
Recentemente reli para a faculdade o livro de Edgar Morin, Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Filósofo, sociólogo, pensador e humanista, Edgar Nahoun nasceu em Paris, onde vive até hoje. Pensador crítico da sociedade contemporânea, defende a interação entre as diversas áreas do conhecimento como forma de melhorar a educação e transformar a sociedade.
No livro o autor estabelece que “há sete saberes ‘fundamentais’ que a educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura”. Tais saberes seriam As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; Os princípios do conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; e A ética do gênero humano.
Tais eixos devem ser vistos como caminho para uma educação transformadora, devendo pautar nossa vida cotidiana de educador, pois devemos participar integralmente na educação e formação de nossos alunos. São saberes essenciais à nossa prática educacional e que devem alicerçar nossa atividade educadora no mundo complexo que vivemos. Tais conhecimentos são vistos por Morin como uma cratera, um buraco na educação atual e que devem ser preenchidos e postos como preocupação primeira na formação dos jovens, futuros cidadãos. Esse processo de formação da cidadania passa pela educação.
As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. Partindo da assertiva de que a educação, transmissora de conhecimento, não sabe na realidade o que é o conhecimento humano, o autor propõe que precisamos primeiramente conhecê-lo. Para ele, o conhecimento está ameaçado pelo erro e pela ilusão. Isso acontece e aconteceu em diversos momentos da história passada e recente. Morin cita Marx e Engels em “A Ideologia Alemã”, onde proclamaram que os homens formaram falsos entendimentos deles mesmos, do mundo em que vivem, daquilo que fazem e do que pretendem fazer.
A verdade científica para Morin, tem um caráter relativo e não absoluto. A sabedoria, o conhecer, não refletem, portanto, a realidade, não são espelhos das coisas concretas. O que percebemos são reconstruções cerebrais estruturadas em nossos pensamentos e que são decodificadas através de nossos sentidos. Por isso podemos perceber algo, mas que não necessariamente seja correto, já que há erros de percepção sobre tudo o que nos cerca. Ao tratar o erro de percepção, o erro intelectual, a falta de conhecimento, deveríamos preparar nossa mente, nosso pensamento, visando chegar ao esclarecimento, ao verdadeiro conhecimento.
A incerteza do conhecimento: por que ensinar a compreensão? No mundo em que vivemos, onde muito das relações beiram a barbárie, é necessário ensinar a compreensão. Precisamos compreender a educação como aquela que envolve as relações humanas, que aceita ao outro em sua plenitude, sem racismo, sem discriminação, sem xenofobia.
Compreender o outro é fator essencial para a comunicação humana. Necessitamos compreender mutuamente o outro, envolvendo a realidade que nos cerca em sua totalidade e não de forma fragmentada. As informações que obtemos através do conhecimento deve ser contextualizada dentro de um todo e não parcialmente. Os acontecimentos, portanto, devem ser contextualizados para que não sejam fatos isolados, para que ganhem a sua plenitude. Da mesma maneira, os conteúdos estudados através das disciplinas, também devem ser compreendidos em sua totalidade, globalmente, e não de forma fragmentada. É necessário saber estabelecer as relações entre as diversas áreas do conhecimento para que a própria educação não se dê fragmentadamente.
Aprendendo a confeccionar a
           saia de capim dos caiapós.
A identidade humana: como ensinar aquilo que desconhecemos? Todos somos humanos e devemos conhecer a identidade de nossos alunos em seus diversos aspectos: biológico, psíquico, histórico, social, cultural e físico. Não há como fragmentar essa complexa unidade humana. Ela deve ser vista integralmente, levando o aluno a tomar conhecimento de seu papel, de sua identidade, daquilo que realmente é. Cada um com suas particularidades, mas fazendo parte de algo maior, a sociedade. O aluno, ao fazer parte de uma sociedade, vive determinados momentos de sua vida. Às vezes a infância, a adolescência e a pós adolescência. Devemos conhecer e compreender a identidade humana nessas fases levando os alunos a criarem sua própria identidade em todas as suas etapas e não imprimindo neles a nossa identidade.
A condição do individuo em suas particularidades deve ser essencial para o processo ensino-aprendizagem. É preciso uma convergência entre identidade humana e ciências, reconhecendo as mudanças que o mundo passa em todo o aspecto do ensino disciplinar. Devemos ver a educação como uma unidade, onde o individuo é um fragmento da sociedade e essa, por sua vez, pertence à uma espécie. Portanto, estamos inserido num todo. Não há sociedade sem interações. Somos seres múltiplos, mas também parte de uma unidade.
Solidariedade na escola.
Ensinar a identidade terrena: Devemos pensar globalmente, mundialmente visando levar aos alunos o pensamento que envolva a identidade terrena, uma identidade mais abrangente que envolve não somente o local, mas o global. Esse pensamento não deve se dar sob forma de dominação de povos, mas de forma solidária. Essa identidade terrena é vista como um dos objetivos principais da educação de um mundo moderno. Devemos compreendê-lo e nos envolver em sua complexidade que envolve as comunicações, informações, o mundo virtual. Mas não basta só conhecimento. É preciso ação solidária, conjunta, perceber o mundo de maneira universal, visando a cidadania terrestre. A noção de Pátria deve ser mais ampla. Pátria é o nosso planeta e por isso devemos aprender a dividir, comungar, ser solidário, viver.
Enfrentar as incertezas: No mundo atual, onde a ciência passa a ter um papel importante, ela nos traz certezas, mas contribui para gerar incertezas também. Por isso, a educação deve propiciar estudar essas incertezas, não somente o que é certo. Devemos estar aptos a enfrentar o inesperado, a libertar-nos da ilusão de podermos prever o futuro. Não vivemos dentro da previsibilidade, mas do que não podemos prever. Pequenos fatos geraram catástrofes de enormes proporções na era Moderna e não podemos prever que aos simples possam contribuir para gerar essas catástrofes. Devemos estar preparados a trabalhar essas situações. Por isso, não devemos ter certeza de que tudo é previsível. Devemos refletir sobre nossas escolhas, com critérios.
Ensinar a compreensão: Precisamos lutar pela compreensão mútua, já que essa encontra-se ausente do mundo atual e a educação deve ser vista como imprescindível para essa luta. Vivemos num mundo onde o que se prega é o individualismo, ser o melhor custe o que custar. Isso passa pela não compreensão do outro, do que é coletivo. Compreender-se mutuamente é essencial para as relações entre a sociedade, para que deixemos a barbárie de lado e caminhemos em rumo à compreensão, a solidariedade. Mas para isso devemos entender primeiramente o que é a incompreensão, quais suas causas e consequências. Devemos compreender isso se quisermos abolir o desprezo, o racismo, a xenofobia e lutar por uma educação de paz, de harmonia, de solidariedade.
A ética do gênero humano: Indivíduo, sociedade e espécie vivem em um processo de interação inseparáveis. Essa interação é complexa já que envolve culturas e sociedades diversas. É nessa base composta pelo indivíduo, pela sociedade e pela espécie que devemos pensar na ética, não por meio de lições, mas de conscientização, de compreensão do outro, de participação conjunta, de conscientização de que pertencemos à mesma espécie – a espécie humana. Esse processo passa pela democracia como essencial para que possamos conceber a noção de humanidade como algo planetário.
Vivemos num mundo de incertezas, de sociedades complexas, de diferenças socioculturais. Muitas das verdades ditas absolutas tempo atrás, hoje não são mais vistas assim. Questiona-se tudo. A educação também atual passa por transformações cotidianamente, onde o conhecimento, em muitos casos, se dá como uma tábula rasa, sem aprofundamento que leve ao verdadeiro saber. Discute-se que educação queremos para nossos alunos. O livro – Sete saberes necessários para a educação do futuro –  é um subsídio importante para essa reflexão – que educação queremos para nossos jovens?
A educação deve ser vista como atividade transformadora, criativa, reflexiva, solidária etc. Ler o livro é pensar nessa nova educação, fruto da sociedade contemporânea, visando melhorar nossas práticas pedagógicas num mundo tão cheio de dúvidas. Se queremos alunos que se preocupem com nosso planeta, com o outro, que defendem a democracia e a participação da sociedade, mas de uma maneira harmônica,  devemos contribuir com isso em nossas aulas, em nossos debates e em nossas práticas cotidianas. Por isso, temos um papel essencial na formação de todos. Devemos considerar nosso aluno com suas potencialidades e suas individualidades, como um individuo com características diferentes, mas pensa-lo não somente como aluno, mas como ser humano. Como educadora, vejo que a leitura do livro me auxilia no debate com os alunos, em pensar um outro mundo. Um mundo coletivo, solidário, participativo, mais humano.


*Rozana Maris Silva Faro é professora de geografia.

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