A Escola Criativa Idade localiza-se em Poços de Caldas no sul de Minas Gerais. Destaca-se na cidade por seu projeto único de educação fundamentado no pensamento construtivista. Desafia e instiga a criança a construir seu conhecimento. A escola não só ensina os conteúdos básicos de educação infantil e ensino fundamental como também insere os alunos em uma ação social que já lhe conferiu, pela quarta vez, o título de ESCOLA SOLIDÁRIA pelo Instituto Faça Parte/ MEC/ UNICEF.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Artigo | Mídia, infância e escola

Quais as experiências e vivências esperamos oferecer aos nossos pequenos? 


Professora Laura Conti*


É com o aparecimento de uma nova ordem econômica, social e cultural, mais precisamente com a ascensão do modelo capitalista e liberal, que podemos, de maneira resumida, caracterizar os sujeitos do ‘mundo pós-moderno’ ou, também denominado por alguns estudiosos de ‘sociedade dos líquidos’, como consumidores ‘desenfreados’ e individualistas, pois, na atualidade é nítido que os indivíduos modernos não enxergam mais o coletivo, nem a sociedade como um todo. O que antigamente era transmitido por “ouvido”, de geração em geração, perdeu o sentido em uma nova sociedade que transmite a experiência de forma a subjetivar os sujeitos através da tela da TV e de outras mídias, das quais somos diariamente submetidos.

É neste contexto, que preocupa-nos o modo com que os pequenos estão sendo inseridos nesta ‘hiper-realidade’, da qual a mídia, as corporações e as pedagogias comerciais representam importantes papéis para infância pós-moderna, principalmente o universo da TV que recria o real, colocando as crianças em novo patamar, substituindo crianças reais como modelos de infância.


Mídia, infância e escola | o Turbilhão de Marketing


A cultura corporativa, direcionada para as crianças, se resume em um cenário de grande atração, composto de um vasto arsenal de propagandas, chamado por Susan Linn (2006) de “Turbilhão do Marketing”, que busca proporcionar além da exposição e vulnerabilidade dos pequenos diante do espetáculo das imagens, inspirar valores e comportamentos, que são embutidos nas mensagens mais ocultas do marketing infantil. É também neste contexto, que não é só através das mídias que o marketing voltado para as crianças está presente, mas, também; “em vias habituais de difusão que tradicionalmente se chamava cultura popular – o boca-a-boca, por exemplo – foram agregadas pelas corporações”. (LINN, 2006, p. 27). A esta afirmação, cabe pensarmos no âmbito escolar, do qual esta “explosão” do marketing está cada vez mais presente nas relações entre pares, nas falas, brincadeiras e ações das crianças.

São estas reflexões, que, de certa maneira, fazem nós educadores ficarmos angustiados e muitas vezes sentirmos impotentes com relação a esta exposição dos pequenos no universo midiático, que muitas vezes são submetidos horas e horas na frente da TV, sem nenhuma intervenção dos responsáveis, pois, são as experiências que as mídias oferecem às crianças, que acabam por criarem nelas valores, expectativas e sentidos. Ao observar uma brincadeira entre crianças, não é difícil perceber a intensidade e maneira com elas desejam ser e agir como os personagens de desenho, de filmes, novelas, transferindo tudo isto para os roteiros de brincadeira, estes que acabam por substituir o imaginário por algo que foi experienciado pela tela da TV.

Ora, se consideramos a brincadeira como um nutriente essencial em todas as vias do crescimento das crianças (social, mental, emocional), sendo que elas também estão intimamente ligadas a uma infância sadia e digna; e que a habilidade de brincar capacita as crianças para o pensamento crítico, criativo e a agir segundo suas vontades e desejos, de tornar a vida significativa, surge a partir daí, uma grande preocupação relacionada às mídias e as brincadeiras infantis, pois, “devido à atual confluência da sofisticada tecnologia da mídia eletrônica e a glorificação do consumismo, está ficando cada vez mais difícil propiciar um ambiente que encoraje a criatividade e o pensamento original nas crianças.” (LINN, 2006, p. 90).


Mídia, infância e escola | o papel dos educadores


São estas análises, questionamentos e angústias voltadas para o estudo da cultura infantil, que permeiam as nossas discussões diárias na escola Criativa Idade, e, é através das observações constantes, que nós nos preocupamos em oferecer cada vez mais um ambiente escolar que de fato encoraje os pequenos a criarem, a refletirem criticamente sobre a realidade da qual estão inseridos e que são diariamente ‘bombardeados’ através das ‘telas’.


Desta maneira, é o nosso papel desde as séries iniciais da Educação Infantil possibilitar a recepção crítica da mídia, ampliar repertórios imaginários e permitir que os pequenos possam refletir, pensar sobre, criar, ‘voar e transcender’, vivendo assim a experiência da verdadeira infância, de resgatar o espírito da criança desordeira, que é  “aquela que, com espírito de caçador, busca nas coisas sua alma e história, fazendo da coleção um ato que, misturado com imaginação, encanta os objetos, arrancando-lhes a aparência grotesca para transformá-los em peças de grande valor”. (Benjamim apud Salgado, 2010, p. 10).


Fotos: Criativa Idade: Um espaço de múltiplas aprendizagens!


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Referências Bibliográficas


MOCELLIM, Alan. Simmel e Bauman: Modernidade e individualização. Revista Eletrônica dos Pós- Graduandos em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Vol.4 n.1, p.101-118, agosto-dezembro de 2007. Disponível Em: http://www.emtese.ufsc.br/vol4_art6.pdf

LINN, Susan. Crianças do Consumo: a infância roubada. São Paulo: Instituto Alana, 2006.

STEINBERG, Shirley R.; KINCHELOE, Joe L. Cultura infantil: a construção corporativada infância. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

FANTIN, Monica; GIRARDELLO, Gilka. Liga, Roda, Clica: Estudos em mídia, cultura e infância. Campinas, SP: Papirus, 2008.

SALGADO, Raquel Gonçalves. “Pares ou ímpares?”: consumo e relações de amizade entre as crianças na formação de grupos para brincar. 33ª reunião da Associação Nacional de Pós Graduação E Pesquisa Em Educação (ANPED), 17-20 de outubro, 2010, Caxambu-MG. Disponível em: http://www.anped.org.br/33encontro/internas/ver/trabalho-gt07



* Laura Conti é formada em pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), pós graduanda em Psicopedagogia na PUC, e professora do quinto período da Educação Infantil na escola Criativa Idade. Participou do Projeto de Extensão Universitária e no PAI ( Programa de ações integradas) do Sistema Sesi / Fiemg, que se somam a cursos de formação continuada e de atualização pela Escola da Vila-São Paulo, nas áreas de Apropriação da Escrita Alfabética e Jogos Matemáticos, e pela USP/São Paulo da Labrimp (laboratório de brinquedos e materiais pedagógicos), na área de Formação do Educador Lúdico.

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