Prof. Andréa Marques Benetti*
Não seria preciso discorrer sobre a importância do aprendizado da matemática na educação das crianças de qualquer idade, mas algumas questões sempre vêm à tona quando pensamos em um ensino de matemática que vise o aluno como protagonista na construção do seu conhecimento, como é o caso das escolas com proposta construtivista.
Primeiramente, é necessário falar sobre o que é matemática e por que ensinamos matemática: mais que uma série de estudos sobre números e resolução desenfreada de cálculos, a matemática é a ciência das ideias e esta conceituação além de bela nos define o sentido do estudo e da aprendizagem da matemática.
Ao contrário do que comumente ouvimos ou podemos imaginar, a matemática não é ensinada para atender somente às exigências concretas que as crianças têm e terão ao longo da vida. Se ensinássemos matemática apenas para utilizar no cotidiano comum, poderíamos parar o ensino por volta do 4º ou 5º ano, quando já se espera que a criança tenha se apropriado das operações básicas, do básico da geometria e do sistema de numeração que utilizamos.
Muito mais que isso, a matemática como ciência das ideias é também a ciência que nos leva a pensar e a utilizar as relações do que já conhecemos para partir para a descoberta do novo. E do que é feita a vida senão da constante descoberta do novo? Nenhuma outra área é tão rica quanto a matemática para nos auxiliar na construção de um pensamento abstrato, necessário para todas as outras áreas e para a vida das pessoas enquanto sujeitos pertencentes a uma sociedade que desenvolveu uma série de conhecimentos e ciências de que hoje em dia podemos dispor em um nível muito mais sofisticado e amplo do que em qualquer época na história da sociedade. E essa é uma segunda questão importante do aprendizado da matemática.
Não é incomum ouvir das pessoas o questionamento de por que deveriam aprender processos não concretos ou aparentemente não aplicáveis da matemática, como relações geométricas mais aprofundadas ou equações de resolução complexas, por exemplo. Neste ponto é possível perceber com grande facilidade a falsa ideia de que o que estudamos ou aprendemos, ou devemos colocar à disposição dos alunos é apenas o que tem aplicação prática imediata no dia a dia.
Porque então deveríamos ensinar geometria, relação entre lados dos triângulos ou diagonais de quadriláteros se aparentemente nada disso está visível na utilidade prática de nosso cotidiano?
A escola não é apenas um local de aprendizado das relações práticas, ao contrário, é uma instituição onde o conhecimento científico precisa circular pelas crianças, que por sua vez, tem o direito de se encantar pelo que já foi produzido por nós enquanto sociedade. Como se encantar pelo conhecimento científico se ele não for deliciosamente exposto para as crianças na escola? Em qual outro local as crianças tem oportunidade de se encontrar com este conhecimento se não na escola, e se apaixonar por ele?
Sendo parte de um conhecimento riquíssimo, uma produção de conhecimento social importante, desenvolvido ao longo do tempo por estudiosos, seria absolutamente desonesto e injusto que a escola não repassasse aos alunos que a frequentam e é nesta questão que entra a importância de uma abordagem do ensino que não parta da “decoreba” de dados, da resolução sem sentido de dezenas e dezenas de cálculos para memorização. Partir de um problema, oportunizar a análise, pelas crianças, das questões que envolvem os conceitos e regras no ensino da matemática, propiciar que construam relações e se apropriem dos conceitos de forma ativa é o que faz diferença na aprendizagem. Neste sentido é que a abordagem construtivista do aprendizado salta na frente do ensino tradicional.
Embora o volume de conteúdo imposto à criança no ensino tradicional seja imensamente maior, aprendendo a pensar, a raciocinar, a estabelecer relações, a criança poderá resolver problemas utilizando a inteligência, saberá estudar quando for preciso porque entendeu os processos e facilmente utilizará os recursos amplos de que dispõe para a resolução do que lhe for proposto. Oportunizar conteúdo limita a criança ao próprio conteúdo, oportunizar o pensamento abre as possibilidades para que a criança utilize os recursos para o que precisar. O foco muda de uma criança a serviço do conteúdo para um conteúdo a serviço de uma criança que aprendeu a pensar, e aí está a riqueza da educação.
Bibliografia:
LERNER, Délia. A aprendizagem e o ensino da matemática, abordagens atuais. Ed Artes Médicas, Porto Alegre, 2005.
MARCIANO, Lílian. Aprender a Ensinar Geometria Jogando e Resolvendo Problemas. Curso ministrado em julho de 2014. Escola da Vila. São Paulo-SP.
SADOVSKY, Patrícia. O papel das construções no ensino da geometria. Algumas boas razões para ensinar geometria no Ensino Fundamental. Ed Ática. São Paulo, 2007.
*Andréa Marques Benetti é graduada em pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e professora do 4º ano da escola Criativa Idade. Atua também na rede municipal de Ensino de Poços de Caldas.
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