A Escola Criativa Idade localiza-se em Poços de Caldas no sul de Minas Gerais. Destaca-se na cidade por seu projeto único de educação fundamentado no pensamento construtivista. Desafia e instiga a criança a construir seu conhecimento. A escola não só ensina os conteúdos básicos de educação infantil e ensino fundamental como também insere os alunos em uma ação social que já lhe conferiu, pela quarta vez, o título de ESCOLA SOLIDÁRIA pelo Instituto Faça Parte/ MEC/ UNICEF.

sexta-feira, 21 de março de 2014

A Inclusão na Criativa

Por Tetê Nassif e Francielle Rezende



APONTAMENTOS...

O discurso sobre a inclusão e os direitos humanos é algo muito recente no Brasil. Só na Constituição Federal de 1988, seguidos, principalmente, pela Lei nº 7853/892 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente por meio da Lei nº 8068/90 é que se garante a igualdade dos bens e dos serviços públicos.

Mais para frente, a Conferência Mundial sobre Educação de Pessoas com Necessidades Especiais, organizada pela UNESCO e o Governo da Espanha em Salamanca, em junho de 1994, introduz o conceito de “Educação Inclusiva”. Isto garante o atendimento às pessoas com necessidades especiais em estabelecimento comum de ensino, recebendo apoios necessários que cada caso exige. Sem dúvida foi um grande passo.

Pensar a inclusão decorre também pensar um novo conceito de reabilitação. Isto é, ter como objetivo reduzir os impactos da deficiência sobre um indivíduo, o habilitando a ser independente, a integrar-se na sociedade e ter cada vez mais qualidade de vida e voz ativa. Aproveitar as potencialidades do indivíduo é essencial neste processo. Uma nova postura também é necessária, a qual promova um relacionamento de aceitação, de reconhecimento dessas pessoas como pessoas de direitos. 

Neste sentido, segundo Walter Camargo Jr, em seu livro: “Transtornos Invasivos do Desenvolvimento: 3º Milênio”, a inclusão vem com um caráter sócio político (eliminação de toda prática discriminatória) ou ética (movimento em favor dos direitos civis). Não se deve existir a “inclusão por inclusão”, a inclusão é um posicionamento de quem acredita em uma sociedade/educação democrática. Ou seja, considera a participação dos sujeitos da ação, respeitando e aceitando as inúmeras diferenças, decorrentes da cultura, crença, capacidade e necessidade de cada cidadão etc.

Quanto aos pais, Walter Camargo Jr cita que a posição que esses adotam a respeito do filho pode estar entre: os que aceitam, os que negam, os que superprotegem, os que inventam defesas e os derrotados. No contexto escolar, os profissionais lidam com os diversos tipos de estrutura familiar. Não é fácil lidar com determinadas situações. Incluir na escola uma criança que é marginalizada na própria casa é um desafio. Neste contexto é necessário não perder o princípio da inclusão, que é a não descriminação, a não segregação.
Vale ressaltar que o ambiente escolar promove aprendizados além dos conteúdos pedagógicos, como os estímulos do ambiente físico, a convivência entre os alunos, a relação entre professor e alunos, o respeito aos combinados, os agrupamentos com intervenção pedagógica, as brincadeiras livres, a resolução de conflitos etc. Este ambiente, quando tem a proposta de promover uma educação para todos, com certeza estimula o crescimento biopsicosocial das crianças.

A PRÁTICA...

Em um processo de 25 anos de história, a Criativa Idade sempre esteve ligada a ações de inclusão, ou melhor, de não exclusão. De aceitação das diferenças como formação de sujeitos integrais, humanos.

Pensar em processos de não exclusão implica em respeitar a integridade da pessoa enquanto cidadão do mundo, direito constitucional.

Eugênia Fávero, procuradora da república, na Roda de Conversa da Criativa Idade sobre: “Inclusão e Direitos Humanos”, afirmou que a inclusão é um direito constitucional, e tudo o que uma escola promover, a fim de ajudar neste processo, e com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das crianças com necessidades especiais, é válido. A participação da pessoa com limitação, da família e das políticas públicas em conjunto é fundamental para a consolidação desta diretriz.

Um dos princípios da escola é se adequar às crianças, quando se trata de inclusão a regra é a mesma. Isto significa que a escola não está totalmente preparada para a grande variedade da demanda, mas está disposta a se adequar de acordo com as necessidades e potencialidades das crianças que chegarem. 

Em 2011 a escola percebeu a necessidade de um atendimento especializado para as crianças que apresentavam dificuldade na aprendizagem, seja por falhas extrínsecas ou intrínsecas. Neste sentido as atividades individuais acontecem de forma adequada à necessidade de cada criança. Abrange, por exemplo, aspectos relacionados ao autocuidado, alfabetização, controle emocional e antecipação do conteúdo que será trabalhado em sala. As atividades individuais acontecem quatro vezes por semana, meia hora por dia. Este trabalho já evidencia consideráveis resultados como: melhorar o desempenho acadêmico, adequar a postura e aumentar o tempo de concentração. Funcionou também como mola propulsora para uma possível autonomia de determinada criança e para o início bastante progressista da alfabetização e letramento.

A escola faz este tipo de atendimento com seis crianças. Sendo três com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo), uma com Síndrome de Down, outra com Síndrome de Sotus e uma com Paralisia Cerebral. Conhecer a patologia e o histórico auxilia na didática e na compreensão biopsicomotora destas crianças. A profissional tem especialização em Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem, mas o constante estudo, principalmente de acordo com a demanda, é essencial para promover situações de aprendizagens adequadas à necessidade e cada vez mais significativas à criança.   

As crianças se adaptaram a ausentar-se da sala regular por este tempo. De certa forma é um momento, principalmente aos que têm TEA, de relaxamento. Afinal mudam para um ambiente com menos estímulos sonoros e visuais.   

O respeito à integridade da criança é também princípio fundamental nas atividades individuais.  Algumas das estratégias utilizadas são: estimular as suas potencialidades, respeitar os limites, adequar o tempo e o espaço.

Na escola existem outras crianças com dificuldade e até mesmo transtorno de aprendizagem, mas que não tem este tipo de atendimento, pois conseguem progredir, de acordo com suas possibilidades, na sala regular. Isto através do PDI (Plano de Desenvolvimento Individual), quando necessário. O fato é que a proposta da escola, baseada no método Paulo Freire, acredita em um aprendizado significativo que considere a vivência. E como se sabe, para as crianças com necessidades especiais, o concreto, a vivência e o contexto, são ainda mais importantes para a construção do conhecimento. O que possibilita que estas crianças se desenvolvam com mais facilidade, até mesmo sem PDI.

Quanto às famílias, a escola tem um caráter acolhedor, que promove momentos de interação. Como as rodas de conversas, grupos de leitura, encontro de avôs, feiras e o convite de almoçarem na escola uma vez por semana. Essa relação facilita a troca de informação com os pais, o que possibilita a escola de ressaltar a importância da família para o progresso global do estudante, incentivar que as famílias instruam-se, indicar as potencialidades das crianças, apontar a necessidade de determinados atendimentos e cobrar uma resposta de determinadas instruções.

Outro aspecto importante é a postura das crianças consideradas “dentro do padrão”. Ao receberem as crianças especiais são motivadas, através das rodas de conversa e da postura dos professores a acolherem e respeitarem as diferenças. Elas compreendem e motivam os colegas a saírem da sala para as atividades individuais. Como o ambiente da escola é bastante HUMANO, auxilia muito neste processo. Desde a educação infantil as crianças têm este tipo valor, e principalmente de vivência, provocados. O que as capacitam a entender e respeitar as diferenças e aprender com elas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário