Por Rose Lino
Na noite da última
segunda-feira, 27, a Escola Criativa Idade promoveu uma roda de conversa para
educadores, estudantes e pais de alunos com a presença do defensor público,
Álvaro da Silveira Bittencourt, do professor de sociologia, Diney Lenon, do
juiz de direito, Antônio Pereira Gatto e da secretária municipal de promoção
social, Lúcia Rodrigues.
O assunto faz parte do tema
trabalhado neste bimestre em sala de aula, Guerras Urbanas. O tema propõe uma
reflexão sobre questões sociais como a desigualdade, o respeito às diferenças e
a solidariedade.
O defensor público, Álvaro
Bittencourt destacou que a redução da maioridade penal é uma medida simplista
perante a complexidade do problema e que é preciso entender a responsabilidade
de cada um neste processo, já que a maioria dos adolescentes envolvidos na
criminalidade são vítimas da violência e da desigualdade social. “A violência é
um sintoma de outros problemas graves da nossa sociedade como a falta de
oportunidade de trabalho, de estudo e muito mais do que se imagina, até mesmo
da falta de alimentação adequada e do uso de drogas”.
Apesar das leis, como o
Estatuto da Criança e do Adolescente, os direitos não são assegurados pelo
Estado em relação à maioria da população jovem.
A secretária de promoção
social, Lúcia Rodrigues disse que é preciso entender que os adolescentes são
pessoas em desenvolvimento e que reduzir a maioridade penal vai significar
diminuir a possibilidade de reeducação, prevista por lei, quando em alguns
casos é prevista a medida sócio-educativa. De acordo com a lei, quando o crime
cometido pelo adolescente envolve violência é prevista a privação da liberdade
por até três anos, período em que deveria ser feito um trabalho de reeducação
para a volta à sociedade. “Temos pesquisas sólidas que mostram que a prisão não reeduca porque há a
perda do vínculo familiar, da autoestima e da perspectiva de mudança de vida”,
comentou a secretária que tem experiência de seis anos dirigindo uma unidade de
internação para menores.
Os debatedores ressaltaram
ainda que a desigualdade social vem como resquício desde a abolição da
escravatura, quando a população negra e pobre se viu livre, porém, sem oportunidades
e sem direcionamento para iniciar uma nova vida. A pobreza virou motivo de
segregação na sociedade e desta forma motivo de discriminação.
O professor de sociologia,
Diney Lenon, trouxe alguns casos em que atuou quando foi conselheiro do
Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente. “São situações em que vemos
claramente a ausência do Estado no que é de sua responsabilidade, ou seja, na
educação, saneamento básico, assistência social, oportunidade de emprego e
renda. A falta desta estrutura familiar muitas vezes, desencadeia processos de
desequilíbrio mental em que pais, mães e filhos se envolvem com o uso e o
tráfico de drogas, na falta de perspectivas melhores”.
Segundo o educador, o que se
vê é a violação dos direitos e enquanto isso algumas pessoas querem fragmentar
o problema e resolver a criminalidade de maneira imediatista sem a adoção de
políticas públicas adequadas.
Para a diretora da escola
Criativa Idade, Teresa Mesquita, a reflexão foi importante para que os
estudantes passem a entender o contexto social com menos preconceitos. “Nosso
projeto – Muito além dos muros da escola – quer ajudar a formar cidadãos mais
conscientes que possam fazer suas análises sobre diversos temas não só pelo que
aparece na mídia mas por meio de uma realidade muito mais complexa”.
A proposta de redução da
maioridade penal de 18 para 16 anos de idade tramita no Congresso Nacional e
deve gerar ainda muita discussão trazendo à tona a responsabilidade de cada
parcela da sociedade, assim como os gestores públicos, na aplicação correta de
recursos, na aplicação das leis existentes assim como na adoção prática das
medidas sócio-educativas que visem a resocialização de crianças e adolescentes.
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