A Escola Criativa Idade localiza-se em Poços de Caldas no sul de Minas Gerais. Destaca-se na cidade por seu projeto único de educação fundamentado no pensamento construtivista. Desafia e instiga a criança a construir seu conhecimento. A escola não só ensina os conteúdos básicos de educação infantil e ensino fundamental como também insere os alunos em uma ação social que já lhe conferiu, pela quarta vez, o título de ESCOLA SOLIDÁRIA pelo Instituto Faça Parte/ MEC/ UNICEF.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A supressão da escrita a mão: um ensaio, uma projeção, um manifesto

Por Hevisley Ferreira

Vou começar do princípio para que o entendimento do contexto seja mais “digerível” para os que já se assustaram com o título deste ensaio. Vou contar minha história e de meu irmão como estudantes. Fato: desde sempre nossas letras cursivas foram um perfeito desastre. As torturas vindas dos docentes em prol de estética e entendimento do que escrevíamos tomavam várias formas, desde cartilhas e cadernos de caligrafia até o estado de humilhação que alguns professores nos faziam passar perante o resto da sala. Isso em pleno final do século XXI (é, eu sei, isso ainda acontece).

Tal sofrimento foi se amenizando ao longo dos anos letivos. E por fim, no Ensino Médio os professores pouco se importavam se nossa escrita era “de médico” ou “de moça”... que alívio! Nosso conforto só atingiu sua apoteose na graduação. Se no Ensino Médio os professores já não faziam tanta questão de conseguir ler o que escrevíamos, no Liceu o nível de preocupação chegou a zero.

Eu e meu irmão tomamos rumos diferentes na escrita e na escolha das carreiras. Eu escolhi a Geografia e optei pela letra de forma em prol de um melhor entendimento de todo o meu entorno profissional. Meu irmão escolheu a Psicologia e pouco se importa com o que seus pacientes ou alunos acham ou entendem de sua escrita. Os tempos são outros, o meio técnico científico não atingiu seu ápice, mas já mostra claros sinais de força e abrangência em pontos nodais não só da economia mundial, mas da arte, do entretenimento, do lazer, das relações sociais e da educação. As gerações Y e Z fazem parte de uma onda tecnológica que já é por excelência o veio principal de suas interfaces sociais. Suas ações, pensamentos e situações baseiam-se fundamentalmente nessa chamada Terceira Revolução Industrial. Ninguém está a salvo desse processo, os tradicionalistas mesclam-se ou morrem na praia, as gerações X e Baby-Boomers atualizam-se ou também poderão morrer na praia. 

A educação também mudou, quem vê de longe discorda, mas quem a vive diariamente sente na pele as dicotomias, as contradições e as tensões dessa nova etapa. A educação bancária se não está morta, persiste com alguns profissionais da velha geração que estão quase se aposentando. O quadro e giz se mostram tão obsoletos que já são motivos de piadas em algumas escolas com melhores aparatos. Dizer que o computador fará parte da vida dos discentes já soa piegas. A interação digital entre esses novos alunos advindos das gerações X e Y ultrapassa barreiras que até a década de 1990 não eram imaginadas nem pelos pensadores dos mais altos setores acadêmicos. Algumas escolas já entregam aos seus alunos, junto ao material didático impresso, tablets, netbooks, notebooks, aplicativos para seus celulares com notas e dicas para as provas, ou no mínimo o endereço de seus websites para verificação de notas ou leituras complementares. Claro, tudo isso é passível de críticas ou desconfiança, mas ainda estamos no começo do processo. 

Tal período que é ao mesmo tempo ofuscante e assustador, só tem benefícios a trazer para os alunos que na atualidade têm péssima escrita. Todos nós professores conhecemos muito (ou relativamente) bem nossos alunos. Sabemos quem há a escrita por vezes invejável, a escrita somente legível, e a escrita que mais parece ter vindo de um paciente com Parkinson – e já peço desculpas pelo humor negro. Também sabemos que nem todos são provenientes de distúrbios ou patologias e que, mesmo assim, poucos vão melhorar substancialmente a estética ou a legibilidade do que escrevem. As tecnologias da informação e comunicação (TIC) já estruturantes no processo de ensino e aprendizagem, vêm agora sob uma perspectiva mais sensibilizada, talvez dando voz a esse grupo/demanda tão peculiar. Atualmente as pessoas se comunicam e se expressam através da utilização do computador com internet bem como de tablets, MyScript e telefones com celulares androids dotados de aplicativos que permitem qualquer interatividade em tempo real. A partir desse contexto, vejo a necessidade de repensarmos como vem sendo o ensino e relevância da escrita a mão nos contextos dispostos através da internet, sobretudo, nas redes sociais. Não sejamos inocentes, o lápis vêm perdendo espaço para o teclado. Se o aluno tecla ao invés de escrever, quem somos nós para dizer que isso é errado ou não é expressão? Será que está perto do dia em que substituiremos o verbo “escrever” pelo verbo “teclar”?

Não significa necessariamente a pulverização da linguagem escrita a mão. Significa encontrar outros vieses de expressão por meios que o próprio discente com dificuldades encontra maior desenvoltura. Não estamos falando de cornucópia e dependência tecnológica, estamos encontrando meios de comunicação e expressão para todos – e sem tortura ou vergonha!

Lembra daquele seu caderninho de anotações do ano retrasado? Onde está hoje? E aquele texto digitado para o trabalho da faculdade? É claro! Se não está no seu desktop de casa, está na sua caixa de emails.

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