Por Andreia Gileno*.
Devaneios de um homem grande sobre suas inclinações culinárias a partir da escola... quando entrava na escola, já sentia aquele cheiro entrando na gente... narinas, olhos, todos os poros eram impregnados por coisa boa vinda da cozinha. E, sabe, o cheiro ficava na escola, fazia parte do contexto... permeava as relações. Nós tínhamos aula com aroma de cozinha de vó, pode isso? A gente aprendia matemática com cheirinho de bolinho de chuva vindo da cozinha. Alguns almoçavam na escola e outros não. Numa época, o que era servido no almoço fazia parte do comentário da meninada durante o período da tarde. – o que foi hoje? – menina, você nem acredita: um caldo quente depois um peixe ao hortelã... – nunca vi isso, hortelã no peixe? – pois é, precisa experimentar, foi bem legal. Cada vez tinha mais gente querendo almoçar lá. E como era gostoso, a turma já reunida comendo junto. Aquilo foi especial na minha vida. Acho que tanto as minhas amizades ficaram mais aromáticas,quanto meu gosto pela comida feita em casa foi sendo consolidado em mim. Muito do que como hoje, já adulto, tem origem naquela época de menino, época de escola. Mas, que se sabia: não era qualquer escola. Era uma escola que tinha cozinha e cozinheira boa. Luxo é ter infância com cheiro de feijão refogado, molho à bolonhesa, bolo de fubá, pão de queijo e outras mil delícias que tinha na minha escola. E o que falar do comer junto? Num tempo em que outras escolas tinham cantinas e cada um comia no seu canto, minha escola incentivava o comer junto, a meninada comendo e conversando.... e sentindo os cheiros e gostos. Tudo misturado numa receita de bem viver. Hoje, quando passo na frente da escola, vinte anos depois, sinto minha boca salivar. O cheiro vem, incrivelmente, numa velocidade de milésimos de segundos. Fico quase paralisado, embebido de tanta felicidade. Fecho os olhos para aproveitar mais o gosto daquele momento bom. Vou degustando, pedacinho por pedacinho das minhas experiências culinárias na escola. E quando abro os olhos, percebo que estou rindo, como nos tempos da 3ª série. Agora sou adulto e tenho uma vida de adulto. Engato a 1ª. Não posso ficar ali, infelizmente. Mas minhas lembranças vão comigo por onde eu vou. Passo no mercadinho do bairro. Vou tentar reproduzir uma receita da escola para os meus filhos.
*Andreia GILENO é a nutricionista da Escola Criativa Idade e sabe muito bem misturar SABERES E SABORES.
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