A Criativa Idade compartilha com alunos e pais seu propósito e projeto literário, através de fragmentos desse livro: “O que significa – Praticar Literatura?”
O QUE SIGNIFICA “PRATICA LITERATURA”?
De qualquer maneira a melhor sugestão que podemos deixar para todos aqueles que lidam com a literatura e com a leitura é: acima de qualquer procedimento, estratégia ou coisa que o valha, o fundamental é que todos nós pratiquemos a literatura. Deveríamos falar menos em ensino de literatura, hábitos de leitura e na realidade: praticar mais a literatura. O que seria praticar a literatura? Não basta promover saraus literários. Declamar poesia é importante, mas não adianta nada se a pretensão, muitas vezes, é somente dramatizar e colocar em evidência pretensos dotes teatrais. Teatralizar literatura, SOMENTE, com o intuito de tornar mais apetecível uma leitura que deveria ser feita em completa solidão. Passar filmes que antes foram livros, exclusivamente, para explorar o enredo... nada mais pobre e ineficaz se pensarmos que a linguagem cinematográfica possui muitos outros vieses que deveriam ser explorados, mas, que geralmente não são entendidos pela maioria dos educadores.
Praticar literatura significa ter uma conduta e procedimentos, por parte dos educadores, que contenham substancialmente: a generosidade intelectual de Paulo Freire na obra Pedagogia do Oprimido, a ironia saudável de Saramago em Ensaio sobre a cegueira, a compassividade da cachorra Baleia em Vidas Secas de Graciliano Ramos, a dissimulação responsável de Machado de Assis na obra Dom Casmurro, a erudição saudável de Haroldo de Campos na Máquina do mundo repensada; a doçura inconfundível de Mia Couto em Terra de Sonâmbulos, a indignação necessária da poesia de Kavafis diante da transitoriedade humana, a reflexão sem precedentes diante da miséria humana da literatura de Giorgos Seféris, a preguiça gostosa de Macunaíma de Mario de Andrade; a amargura silenciosa da poesia de Joao Cabral de Melo Neto; a fortaleza de Úrsula em Cein Anos de Soledad; a observação aguda de Charles Darwin; a sede de conhecer as profundezas da natureza de Albert Einstein; a leveza metafórica de Gaston BAchelard; a desconfiança sem precedentes de Michel Foucault; as paixões alegres de Espinosa; a poesia da tabela periódica de Levi; a inventividade criadora de Bergson; o sarcasmo de Borges; a ternura de Cecilia Meireles; a autoridade de Doris Lessing; a violência conceitual de Deleuze. Isso somente para ficarmos com alguns exemplos.
Insistimos: somente praticando literatura poderemos “ensiná-la”. Potencializá-la. Estimulá-la. Plantá-la. Eternizá-la.
Poucos se prestarão à resistência. Nossos estudantes possuem uma sensibilidade que pode ser mais aberta e prolongada, contudo, somente a partir do momento que perceberem que a literatura, assim como a leitura, não servem apenas e somente para ensinar gramática, escrever melhor, mostrar novas palavras, aumentar vocabulário, decifrar enigmas, buscar sentidos ocultos, interpretar. Ao praticar a literatura o educador terá, incondicionalmente, a abertura de espaços sedutores, proliferantes, que deverão atingir grande parte dos educando. Nessa perspectiva, as interrogações cognitivas e estéticas provocadas por atitudes dos educadores de literatura serão as melhores estratégias que deverão atingir agudamente os estudantes.
Desta forma, cremos, sinceramente, que os ecos insondáveis dos sinos que dobram deverão ressoar, intermitentemente, naqueles que enterram seus corações na curva do rio, caminham pelos labirintos dos jardins que se bifurcam e, certamente, deverão se perguntar, atolados, embarrigados, fascinados:
a) Afinal, o que é ciência?
b) É isto um homem?
c) O que é a filosofia?
d) Onde encontrar a sabedoria?
E finalmente, como disse Sartre: Qu´est ce que La littérature?
“Educação, Ensino e Literatura: propostas para reflexão”
(Ana Maria Haddad Baptista)
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